sábado, 19 de setembro de 2009

Os Curadores

1968. Dificilmente outro ano da história do cinema ou da própria história mundial permite que se faça um recorte tão interessante para se discutir as relações que a arte estabelece com o seu tempo. Os 366 dias (1968 foi um ano bissexto!) que separaram 1 de janeiro de 31 de dezembro daquele ano conseguiram reunir uma seqüência de fatos históricos notáveis, que vão da invasão da embaixada americana em Saigon à promulgação do AI-5 no Brasil, passando pelo assassinato de Martin Luther King, pelo massacre na praça de Tlatelolco no México, pela Primavera de Praga e, obviamente, pelas manifestações nas ruas parisienses durante o maio mais famoso da história. No mesmo período, alguns dos maiores diretores do cinema mundial, dentre os quais Stanley Kubrick, Roman Polanski e Sergio Leone, lançavam filmes que não só definiriam suas carreiras, como também seriam decisivos para a futura trajetória da arte cinematográfica. Paralelamente à efervescência cultural, política, social, sexual e ideológica daquela época, o cinema acompanhava o borbulhar da realidade na qual estava imerso, ao mesmo tempo em que registrava para sempre a atmosfera de 1968.

Pensando assim, a mostra de cinema 1968: CINEMA, UTOPIA, REVOLUÇÃO! celebra as quatro décadas decorridas desde aquele mítico ano, com a exibição de 20 filmes de diferentes países, gêneros e realizadores, selecionados em função de sua representatividade, eloqüência e relevância para a história do cinema e para o contexto em que surgiram.

A escolha por exibir filmes lançados – e não filmados ou produzidos – em 1968 se explica pela proposta de discutir o cinema como uma manifestação histórica e cultural tão relevante quanto os acontecimentos à sua volta e, assim como estes, fruto de processos sociais mais amplos, iniciados anos antes.

Naturalmente, filmes não refletem o seu tempo e a sua realidade sempre da mesma maneira. Em alguns dos filmes de 1968, por exemplo, a referência aos acontecimentos do fim dos anos 1960 é intencional e explícita. Em outros, os ecos daquela época são quase imperceptíveis, só se fazendo notar quando analisados à luz do contexto em que os filmes foram produzidos. Seja como for, a capacidade de estabelecer uma relação com o mundo ao seu redor é uma característica inerente ao cinema como forma de expressão e que contribui para o fascínio exercido por ele sobre platéias de diferentes gerações desde o seu surgimento, há mais de 100 anos. Ao comparar os filmes de 1968 com acontecimentos e fatos históricos do mesmo período, a mostra 1968: CINEMA, UTOPIA, REVOLUÇÃO! traça também um paralelo com a atualidade, convidando o espectador a refletir a respeito desse importante papel social do cinema e da forma como ele se mantém presente nos filmes de ontem, hoje e amanhã.